sábado, 15 de março de 2008

Haicai no Espelho

Meus primeiros contatos com o haicai não tiveram a influência brasileira e, sim, a estrangeira. No ano de 1990 fui com minha família para o Havaí, Estados Unidos, onde morei por cinco anos, voltando ao Brasil em 1995. Portanto, o haicai guilhermino ou os ensinamentos do mestre Goga eram ainda desconhecidos para mim. O caminho que se abria para meus primeiros passos no haicai despertava novamente minha curiosidade sobre a cultura japonesa, em especial, a literatura.

O haicai me deslumbrou pela primeira vez, quando num dia do ano de 1992 abri o jornal havaiano Star-Bulletim, de Honolulu, e li um texto sobre um concurso de haicai para crianças. O que mais me chamou atenção foi o fato de o artigo mencionar que o haicai era uma forma poética japonesa. Pelas informações, pareceu-me um poema, que, além de ser curto, era fácil de escrever e era gracioso. Ora, eu morava numa cidade onde a população japonesa era bastante representativa e eu já havia conhecido um grupo de estudantes japoneses nas aulas de inglês, mas meu interesse pela cultura japonesa se limitava às poucas lembranças de meus contatos com a vida japonesa.

Lembro que quando eu tinha uns 8 a 9 anos, eu já apreciava o sabor oriental. Numa vila, que passava ao lado de minha casa, morava uma senhora japonesa, de figura miúda e modos extremamente educados. Descobri que seu nome era Kanoé, assim se pronunciava, mas agora e de repente, não sei se o escrevi de forma correta. Essa amável senhora, que não falava português, vendia para a criançada, e quem mais quisesse, saquinhos de arroz frito e crocrante que me faziam espremer cofrinhos só para degustar, por menos de cinco unidades da moeda corrente, aquela deliciosa comida estrangeira. Mas não precisava qualquer diálogo entre nós, bastava apenas mostrar o dinheirinho e apontar o produto. Minha primeira experiência com a cultura japonesa havia definitivamente me conquistado. Outras estariam por vir.

Lá pelos anos de 1966, (quanto tempo!) creio, minha tia Nilda, levou minha irmã, Regina e eu, para o cinema. O primeiro filme também não se esquece. Fomos assistir "As Olímpiadas de Tóquio" que se realizaram em 1964, e cujas imagens ficaram gravadas em minha memória. Lembro que sai do cinema impressionada com a beleza e graça do origame, da delicadeza da dança, e com tudo que o filme me fizera conhecer. Quando conheci o haicai, desta vez já adulta, foi como se um elo faltante unisse todos os demais. Era preciso então dar continuidade a esse novo aprendizado.

O Primeiro Forum: A CompuServe

Foi na CompuServe, uma empresa americana pioneira da Internet, que oferecia a seus membros diversos serviços, entre eles, fóruns de discussões, que construí a primeira ponte do meu caminho rumo ao haicai. Meu interesse pela poesia já era antigo mas o fórum de poesia da CompuServe permitiu que eu liberasse o que eu queria expressar como poeta. Foi assim que contei minha primeira experiência com o haicai a um grupo de membros do fórum, demonstrando meu interesse em descobrir mais sobre o assunto.

Nesse fórum falávamos de Basho, Issa, Buson, Shiki e outros, mas tudo ainda era novo para nós. Escrevíamos haicais que imaginávamos ser haicai. Seguíamos fielmente o número de sílabas 5-7-5 para mais tarde descobrirmos que nossos haicais não eram haicais, nossas rengas não eram rengas e nossas tankas não eram tankas. Em realidade, íamos aprendendo juntos, já que o haicai era um assunto novo para a maioria. Havia um membro mais afinado com a forma, o Tom (que coincidência!), que era um grande admirador de haicai. Foi ele que nos alertou sobre detalhes que tornavam nosso terceto um haicai. Ele foi categórico ao dizer que todos os poemas que eu escrevera até então não eram haicais, talvez exceto um que transcrevo a seguir:

furo no telhado
a lua derrama um pingo
de luz no chão

Esse foi um motivo para nos dedicarmos com mais afinco a pratica da forma. De repente, muitos haicaistas hábeis despontaram e nos abasteceram com vários níveis de informações. Restava-nos querer entendê-las e absorvê-las. Vimos diversos colegas debandarem enquanto outros aderiam ao grupo. O ritmo de aprendizagem seguia de modo natural e nos deixava consciente de que precisaríamos de muito tempo para dominar a arte. Chamávamos a nós mesmos de eternos aprendizes e preferiamos assim para não sermos cobrados como grandes conhecedores, embora uns mostrassem maior domínio das técnicas do que outros. Outros, como eu, preferíamos ser um simples discípulo.

Foi na CompuServe que conheci a autora americana Jane Reichhold. Ela nos honrou com sua presença e nos deu algumas lições sobre haicai. Também nos convidou para submeter algum haicai para a revista Linx, editada por ela. Foi aí que publiquei um poema formado por tercetos. Com ela, aprendemos outras técnicas, regras e tentamos escrever haicais mais próximos dos conceitos ocidentais.

Voltei para o Brasil em 1995. Estava inteiramente envolvida pelo haicai mas assumi que os brasileiros o desconheciam. Felizmente, eu estava errada e meu primeiro contato com o haicai brasileiro se deu em 1996, quando participei do I Encontro de Poesia - A Floresta em Verso e Prosa, quando uma das palestrantes mencionou a palavra haicai. Fiquei entusiasmada e resolvi pesquisar na Internet. Encontrei o belo site do Kaki e me deliciei. Enviei alguns haicais para o Grafite e vi que poderia continuar com meu aprendizado em português. (A ser continuado).

segunda-feira, 3 de março de 2008

meu cão/my dog



lua no quintal
a casa do meu cachorro
não tem janela

garden´s full moon
my dog´s house with
no window

sábado, 1 de março de 2008

lilis/lilies



lilis em flor
minha aromaterapia
com hora marcada

lilies in bloom
my aroma therapy
by appointment